Qua 01 Junho 2011
Chego a meio da tarde às portas de Edimburgo. É uma grande cidade turística e deve ser cara de certeza. Alojamentos no centro, nem pensar. A pousada de juventude também é no centro mas estou a pensar se há sítio para estacionar a moto. Paro num posto de abastecimento e tiro da mala o meu livrinho de apontamentos. A minha Amiga Susana Beirão (a rasteirinha de Góis) deu-me uns endereços de B&B onde ficou há uns anos quando cá esteve. O desafio é encontrar a morada. Vou perguntar ao funcionário da bomba. Também não sabe. Na loja há um Atlas das estradas, um livro com milhentas folhas e detalhe das estradas e ruas. Folheia aquilo e consegue ver onde é. Afinal é bem perto, até estou na saída certa da auto-estrada. Explico-lhe que ando à procura de alojamento e pergunto se sabe de algum. Diz-me que naquela zona há muitos, mais baratos que na cidade e fica apenas a 10 minutos do centro. Vê o autocolante de Portugal colado na moto e começamos à conversa. Já tinha estado na Madeira e gostou muito. Para me ajudar, agarra no telefone e liga para o B&B que eu tinha apontado. Fala com a senhora, pergunta se tem quartos livres, pergunta o preço. Depois de instalada e mais descansada, vou explorar o centro da cidade.
Esta foi uma conversa difícil. A pronúncia dos escoceses é cerrada, falam para dentro, comem as sílabas. Tenho de pedir para repetir e pensar no sentido das palavras. Faz-me lembrar os açorianos.
Um dia em Edimburgo chega apenas para perceber que não é suficiente. Uma semana, talvez. Esta cidade respira história, cada esquina é um mundo para descobrir, deambular pelas ruas faz querer ir sempre mais longe, ao fundo outro monumento, outra rua interessante, mais arquitectura fantástica. Mesmo com o céu nublado, a cidade tem uma luz própria, reflectida nos edifícios de pedra, cheira a mistério, a fantasmas.
Sigo para Norte. Quando chego ao Blair Castle percebo que já é tarde. Encontro um enorme portão fechado. Fechou às 4:30h. Raios, neste país não se pode aproveitar o dia todo. Estou aborrecida. Continuo caminho e entro no parque natural de Cairngorms. A paisagem é fabulosa. Felizmente não tem hora para fechar.
As pequenas aldeias vão rareando, tudo é verde, cheira a relva cortada. A estrada ora está rodeada de floresta, ora serpenteia junto a um Loch, ora sobe e presenteia-nos com uma vista fantástica, ora corta por um vale esmagado pelas montanhas.
Estou cansada. Decido parar em Aviemore e procurar alojamento. Aqui sei que há uma pousada de juventude, por isso estou safa. À entrada da pequena vila há um parque de campismo e vejo uns bungalows. Vou perguntar, fica ao mesmo preço da pousada e tenho quarto individual. Nem hesito. Fico já por aqui. Mesmo ao lado um restaurante italiano anuncia um buffet de massas e pizzas de comer até querer. Ora aqui está uma boa ideia.
Depois de jantar sento-me lá fora, no silêncio. São 10 horas da noite e o dia ainda dura, um lusco-fusco difuso. Ouve-se apenas o trinar dos pássaros e o movimento dos pinheiros ao som do vento. Nos relvados aparecem coelhos, mexem-se por entre o estacionamento, cheiram os pneus da moto, andam para a frente e para trás, saltitam por ali. No horizonte as montanhas recortadas, escuras. O olhar é cortado por uma aranha que desce por um fio, lentamente, desde o telhado até ao chão e depois desaparece.
Sex 03 Junho 2011
Hoje é dia de tomar decisões. Quanto mais a Norte, mais estreitas são as estradas, retorcidas de curvas, o andamento tem de ser mais lento. Andei meses a planear o itinerário. Mas os planos são apenas planos, intenções de rumo. Tinha pensado ir até John O’Groats, lá bem em cima. Hoje seria um percurso de quase 500 km. Mas já percebi que não é possível. A Susana Beirão avisou-me que as terras altas são desertas, cuidado com os postos de gasolina, não há nada. Estou a pensar se consigo chegar a Ullappol até ao final do dia. Olho para o mapa e decido. Que se lixe John O’Groats. Nunca fui de fazer promessas de passar em sítios que todos dizem que tem de ser. Afinal, John O’Groats é apenas um vilarejo conhecido por ter um porto onde se apanha o Ferry para as Ilhas do Norte. É também o ponto que marca a maior distância que se pode fazer no Reino Unido (John O’Groats – Land’s End). O Lés a Lés cá do sítio. Além disso, todos os ingleses com quem tenho falado pelo caminho me disseram que a costa Oeste é bem mais bonita. Não me está a apetecer fazer mais 200 km de curvas por uma falésia escarpada e batida pelo vento.
Decido atravessar pelo centro das Terras Altas, cortar caminho até Kyle of Tongue. Continuo rumo a Norte por uma paisagem verde e bonita.
Muito trânsito em estradas sem bermas. Não se consegue parar para tirar fotografias. Os carros andam com pressa. E eu ando furiosa, com tanta paisagem para fotografar e nem uma berma para encostar. A estrada acaba num remate alto em cimento ou tem uma elevação em terra e árvores ou num rail, sem espaço para encostar. Parar na borda da estrada é um suicídio com tantos carros a passar e bem depressa. De vez em quando aparecem uns locais próprios para estacionamento, mas rodeados de árvores, com vista para postes telefónicos ou de electricidade, sem visão para o horizonte. A paisagem que eu quero fotografar ficou lá atrás ou está tapada de árvores.
Já estou muito a Norte e as Highlands que procurava, não aparecem. Nada do que tinha imaginado está à vista. Prados verdes, riachos a serpentear pelos vales, montanhas altas despidas de árvores. Com um bocadinho de sorte ainda apareciam uns Clans de escoceses, de saias aos quadrados, montados em cavalos. Para já é bonitinho, mas ainda não me tira a respiração. De repente, a seguir a Lairg, a estrada transforma-se num caminho de uma só via, onde apenas cabe uma viatura (single track road). E a paisagem mudou. E o meu imaginário torna-se realidade.
Apetece fotografar cada metro de paisagem. Paro centenas de vezes nos locais de passagem (passing place). Paisagem de uma beleza agreste, solitária. As casas são raras, não se vê gente. Apenas umas bolas amarelas salpicam os vales, carneiros felpudos. Rolo devagar a beber a imensidão do universo, o sol pinta os vales de verde quente. Numa curva de estrada vejo um enorme veado junto a um riacho, castanho, possante, de hastes enormes. Travo de repente e desligo a moto. Corro em bicos de pés para trás de máquina pronta. Mas já não está lá. Assustou-se com o barulho do motor. Mas a imagem deste animal lindo vai ficar gravada na minha memória.
Cá em cima o espaço é aberto. Respira-se horizonte, sente-se a liberdade do mundo. O único som é do vento. Ao chegar à costa norte levanta-se o vento. Vendaval. Sopra a nortada vinda do mar. Constantemente. A estrada encavalita no cimo dos montes, o vento verga a natureza rasteira, empurra a moto. Ando de lado, com a escarpa e o mar à direita e as montanhas à esquerda. Terra assolada pelo vento, vegetação queimada pelo frio.
Está frio. Muito frio. Tenho as mãos geladas e o nariz vermelho. Felizmente hoje vesti a minha camisola interior térmica, tenho um polar e o blusão com os forros todos e bem apertadinho nos punhos. Mas o frio sente-se na mesma. As nuvens tapam o cume das montanhas, o nevoeiro desce pelas encostas, o vento empurra a humidade do mar, cola-se à roupa, arrepia os ossos. De vez em quando, numa curva de estrada, vê-se ao fundo um raio de sol a iluminar uma encosta virada a oeste.
Em Tongue fico sem bateria na máquina fotográfica. Entro num pequeno Hotel e explico o meu problema. Com um ar muito desolado. O vosso país é fantástico e não posso tirar mais fotos. A simpática senhora deixa pôr a bateria a carregar. Faço uma pausa e almoço uns pães com qualquer coisa dentro que não descobri o que é mas tinham bom aspecto no supermercado. Num recanto do estacionamento, bate o sol e aquece-me a alma. Pronta para mais uns kms até Ullappol.
A pousada de juventude em Ullappol é mesmo frente ao mar. É habitada por caminheiros, homens magros e secos, pele queimada pelo frio. Têm botas enormes e pilhas de mapas de relevo. Falam entusiasmados das paisagens que descobrem, saem de madrugada de mochila às costas e perdem-se nas montanhas.
No Pub da vila servem hambúrgueres, a única coisa com preço razoável. Na mesa do fundo ouço falar português. Três homens a falar alto e a praguejar. Claro que vou meter conversa. São pescadores do mar do Norte, tinham vindo descarregar o barco e aproveitam para beber uma cerveja. Dizem que 90% das tripulações dos barcos dos mares do Norte são portugueses, da Póvoa de Varzim e de Vila do Conde. A pesca em Portugal acabou e eles imigraram. Falam do frio, das ondas de 8 metros e das saudades de casa.
São 11 horas da noite e o dia ainda vai alto. Às 4:30h da madrugada já é dia. Está frio. Nove graus. Não admira que os carneiros sejam felpudos e as vacas tenham cabelo comprido.
..
Chego a meio da tarde às portas de Edimburgo. É uma grande cidade turística e deve ser cara de certeza. Alojamentos no centro, nem pensar. A pousada de juventude também é no centro mas estou a pensar se há sítio para estacionar a moto. Paro num posto de abastecimento e tiro da mala o meu livrinho de apontamentos. A minha Amiga Susana Beirão (a rasteirinha de Góis) deu-me uns endereços de B&B onde ficou há uns anos quando cá esteve. O desafio é encontrar a morada. Vou perguntar ao funcionário da bomba. Também não sabe. Na loja há um Atlas das estradas, um livro com milhentas folhas e detalhe das estradas e ruas. Folheia aquilo e consegue ver onde é. Afinal é bem perto, até estou na saída certa da auto-estrada. Explico-lhe que ando à procura de alojamento e pergunto se sabe de algum. Diz-me que naquela zona há muitos, mais baratos que na cidade e fica apenas a 10 minutos do centro. Vê o autocolante de Portugal colado na moto e começamos à conversa. Já tinha estado na Madeira e gostou muito. Para me ajudar, agarra no telefone e liga para o B&B que eu tinha apontado. Fala com a senhora, pergunta se tem quartos livres, pergunta o preço. Depois de instalada e mais descansada, vou explorar o centro da cidade.
Esta foi uma conversa difícil. A pronúncia dos escoceses é cerrada, falam para dentro, comem as sílabas. Tenho de pedir para repetir e pensar no sentido das palavras. Faz-me lembrar os açorianos.
Um dia em Edimburgo chega apenas para perceber que não é suficiente. Uma semana, talvez. Esta cidade respira história, cada esquina é um mundo para descobrir, deambular pelas ruas faz querer ir sempre mais longe, ao fundo outro monumento, outra rua interessante, mais arquitectura fantástica. Mesmo com o céu nublado, a cidade tem uma luz própria, reflectida nos edifícios de pedra, cheira a mistério, a fantasmas.
As ruas estão cheias de turistas, percorrer a Royal Mile é uma descoberta permanente, cada cruzamento revela mais uma rua para explorar. Fazem-se milhas a pé por esta cidade sem se perceber que os pés já reclamam. O castelo, famoso pela história que encerra e pelos fantasmas que por lá passeiam deve demorar um dia inteirinho para explorar completamente. Não há tempo para entrar. Vagueio pelas ruas da cidade enquanto há luz, aproveito todos os centímetros de história que a cidade nos oferece. Ao entardecer, filas de turistas encarreiram atrás de um guia, vestido com kilt e uma capa negra que vai mostrar as catacumbas da cidade, o cemitério e contar as lendas dos fantasmas.
Mas nem tudo é turismo. Por cima da ponte North Bridge há uma carrinha da ajuda humanitária e uma fila de sem abrigo à procura de uma sopa quente e um pão. São as contradições de qualquer cidade, Edimburgo é um local de riqueza e também de pobreza.
Qui 02 Junho 2011
Hoje vou evitar as auto-estradas. Estou farta de camiões, de trânsito rápido. Sair de Edimburgo é um tormento. Para fugir ao trânsito vou dar a volta pela circular da cidade, uns 30 km a mais. Antes de chegar a Stirling desvio pelas secundárias. Agora sim, agora aparecem as paisagens que estavam no meu imaginário. Começa a descoberta. Estradas serpenteantes pelos vales, tudo verde, riachos correm lá em baixo, depressa, água cristalina, quase se adivinha o som cá de cima. Uma seta a indicar Castelo. Vou espreitar.
Pitlochery é uma vila linda. Marca o início das montanhas e a rota das destilarias. Encontro a primeira, da Bell’s, apanho uma decepção do tamanho de um barril de whisky. Uma construção em pedra, quase não se vê, tal o tamanho dos cartazes a anunciar a destilaria. Ao lado, um gigantesco parque de estacionamento cheio de camionetas de excursão. Um ror de gente a entrar e a sair. Perdi a vontade de ir visitar.
Sigo para Norte. Quando chego ao Blair Castle percebo que já é tarde. Encontro um enorme portão fechado. Fechou às 4:30h. Raios, neste país não se pode aproveitar o dia todo. Estou aborrecida. Continuo caminho e entro no parque natural de Cairngorms. A paisagem é fabulosa. Felizmente não tem hora para fechar.
As pequenas aldeias vão rareando, tudo é verde, cheira a relva cortada. A estrada ora está rodeada de floresta, ora serpenteia junto a um Loch, ora sobe e presenteia-nos com uma vista fantástica, ora corta por um vale esmagado pelas montanhas.
Estou cansada. Decido parar em Aviemore e procurar alojamento. Aqui sei que há uma pousada de juventude, por isso estou safa. À entrada da pequena vila há um parque de campismo e vejo uns bungalows. Vou perguntar, fica ao mesmo preço da pousada e tenho quarto individual. Nem hesito. Fico já por aqui. Mesmo ao lado um restaurante italiano anuncia um buffet de massas e pizzas de comer até querer. Ora aqui está uma boa ideia.
Depois de jantar sento-me lá fora, no silêncio. São 10 horas da noite e o dia ainda dura, um lusco-fusco difuso. Ouve-se apenas o trinar dos pássaros e o movimento dos pinheiros ao som do vento. Nos relvados aparecem coelhos, mexem-se por entre o estacionamento, cheiram os pneus da moto, andam para a frente e para trás, saltitam por ali. No horizonte as montanhas recortadas, escuras. O olhar é cortado por uma aranha que desce por um fio, lentamente, desde o telhado até ao chão e depois desaparece.
Sex 03 Junho 2011
Hoje é dia de tomar decisões. Quanto mais a Norte, mais estreitas são as estradas, retorcidas de curvas, o andamento tem de ser mais lento. Andei meses a planear o itinerário. Mas os planos são apenas planos, intenções de rumo. Tinha pensado ir até John O’Groats, lá bem em cima. Hoje seria um percurso de quase 500 km. Mas já percebi que não é possível. A Susana Beirão avisou-me que as terras altas são desertas, cuidado com os postos de gasolina, não há nada. Estou a pensar se consigo chegar a Ullappol até ao final do dia. Olho para o mapa e decido. Que se lixe John O’Groats. Nunca fui de fazer promessas de passar em sítios que todos dizem que tem de ser. Afinal, John O’Groats é apenas um vilarejo conhecido por ter um porto onde se apanha o Ferry para as Ilhas do Norte. É também o ponto que marca a maior distância que se pode fazer no Reino Unido (John O’Groats – Land’s End). O Lés a Lés cá do sítio. Além disso, todos os ingleses com quem tenho falado pelo caminho me disseram que a costa Oeste é bem mais bonita. Não me está a apetecer fazer mais 200 km de curvas por uma falésia escarpada e batida pelo vento.
Decido atravessar pelo centro das Terras Altas, cortar caminho até Kyle of Tongue. Continuo rumo a Norte por uma paisagem verde e bonita.
Muito trânsito em estradas sem bermas. Não se consegue parar para tirar fotografias. Os carros andam com pressa. E eu ando furiosa, com tanta paisagem para fotografar e nem uma berma para encostar. A estrada acaba num remate alto em cimento ou tem uma elevação em terra e árvores ou num rail, sem espaço para encostar. Parar na borda da estrada é um suicídio com tantos carros a passar e bem depressa. De vez em quando aparecem uns locais próprios para estacionamento, mas rodeados de árvores, com vista para postes telefónicos ou de electricidade, sem visão para o horizonte. A paisagem que eu quero fotografar ficou lá atrás ou está tapada de árvores.
Já estou muito a Norte e as Highlands que procurava, não aparecem. Nada do que tinha imaginado está à vista. Prados verdes, riachos a serpentear pelos vales, montanhas altas despidas de árvores. Com um bocadinho de sorte ainda apareciam uns Clans de escoceses, de saias aos quadrados, montados em cavalos. Para já é bonitinho, mas ainda não me tira a respiração. De repente, a seguir a Lairg, a estrada transforma-se num caminho de uma só via, onde apenas cabe uma viatura (single track road). E a paisagem mudou. E o meu imaginário torna-se realidade.
Apetece fotografar cada metro de paisagem. Paro centenas de vezes nos locais de passagem (passing place). Paisagem de uma beleza agreste, solitária. As casas são raras, não se vê gente. Apenas umas bolas amarelas salpicam os vales, carneiros felpudos. Rolo devagar a beber a imensidão do universo, o sol pinta os vales de verde quente. Numa curva de estrada vejo um enorme veado junto a um riacho, castanho, possante, de hastes enormes. Travo de repente e desligo a moto. Corro em bicos de pés para trás de máquina pronta. Mas já não está lá. Assustou-se com o barulho do motor. Mas a imagem deste animal lindo vai ficar gravada na minha memória.
Cá em cima o espaço é aberto. Respira-se horizonte, sente-se a liberdade do mundo. O único som é do vento. Ao chegar à costa norte levanta-se o vento. Vendaval. Sopra a nortada vinda do mar. Constantemente. A estrada encavalita no cimo dos montes, o vento verga a natureza rasteira, empurra a moto. Ando de lado, com a escarpa e o mar à direita e as montanhas à esquerda. Terra assolada pelo vento, vegetação queimada pelo frio.
Está frio. Muito frio. Tenho as mãos geladas e o nariz vermelho. Felizmente hoje vesti a minha camisola interior térmica, tenho um polar e o blusão com os forros todos e bem apertadinho nos punhos. Mas o frio sente-se na mesma. As nuvens tapam o cume das montanhas, o nevoeiro desce pelas encostas, o vento empurra a humidade do mar, cola-se à roupa, arrepia os ossos. De vez em quando, numa curva de estrada, vê-se ao fundo um raio de sol a iluminar uma encosta virada a oeste.
Em Tongue fico sem bateria na máquina fotográfica. Entro num pequeno Hotel e explico o meu problema. Com um ar muito desolado. O vosso país é fantástico e não posso tirar mais fotos. A simpática senhora deixa pôr a bateria a carregar. Faço uma pausa e almoço uns pães com qualquer coisa dentro que não descobri o que é mas tinham bom aspecto no supermercado. Num recanto do estacionamento, bate o sol e aquece-me a alma. Pronta para mais uns kms até Ullappol.
A pousada de juventude em Ullappol é mesmo frente ao mar. É habitada por caminheiros, homens magros e secos, pele queimada pelo frio. Têm botas enormes e pilhas de mapas de relevo. Falam entusiasmados das paisagens que descobrem, saem de madrugada de mochila às costas e perdem-se nas montanhas.
No Pub da vila servem hambúrgueres, a única coisa com preço razoável. Na mesa do fundo ouço falar português. Três homens a falar alto e a praguejar. Claro que vou meter conversa. São pescadores do mar do Norte, tinham vindo descarregar o barco e aproveitam para beber uma cerveja. Dizem que 90% das tripulações dos barcos dos mares do Norte são portugueses, da Póvoa de Varzim e de Vila do Conde. A pesca em Portugal acabou e eles imigraram. Falam do frio, das ondas de 8 metros e das saudades de casa.
São 11 horas da noite e o dia ainda vai alto. Às 4:30h da madrugada já é dia. Está frio. Nove graus. Não admira que os carneiros sejam felpudos e as vacas tenham cabelo comprido.
..
De Edimburgo à vaca despenteada grande gozo me deu ler estas palavras repletas de alma. Não é só a viagem, que até podia ser aqui ao lado, nem são as fotos com céu azul e tudo, é fundamentalmente o prazer e o sentir da viagem postos desta forma à nossa disposição. Os highlanders têm sorte porque realmente abre o apetite ir dar uma volta ao contrário! E eu também tenho sorte de poder ler coisas assim.
ResponderEliminarWaiting for another part...
Obrigado Paula!
Este último senhor tem um grande penteado, lol.
ResponderEliminarFicamos à espera de mais um capitulo.
Pedro Guimarães
opá nem imagina o gosto que tive em ler estes textos! Brutalidade de paisagens!
ResponderEliminarPois comadre continuo deliciado com a tua escrita, mais uma vez os meus parabêns e continua Todos nós aguardamos novos capitulos.
ResponderEliminarBjks Correia
Parabéns Paula..muito bom!!! Com estas fotos e descrições um dia destes vou levar a minha mota a ver a terra dela!!!
ResponderEliminarDa irritação pela falta de bermas para parares em segurança, ao nariz vermelho do frio. Dos pescadores do Mar do Norte, ao Lixe-se John o'Groats, a vermelhinha sempre presente, num relato pincelado pelas cores da Escócia...
ResponderEliminarVivi bem essa tua viagem Paula. Obrigado pela partilha e por nos deixares viajar no sofá.
Bjs
Parabéns Paula, está fantástica, fantástica e fantástica! :)
ResponderEliminarAdorei como escreves. As fotos estão maravilhosas e no final as fotos dos animais estão verdadeiramente espectaculares! 5*
Bjs
Simone Marta